Acordei assassinada

29/01/2013 11:01

No sono fui superficialmente salva, porque acordei assassinada. Acordei sem vida como cada sonho alí naquela cidade do Rio Grande do Sul. Despertei sem respirar, com o coração acelerado e a boca aberta de horror. Acordei desejando estar em pesadelo e com vontade de abraçar alguém. Talvez aquele pai chorando, aquela mãe… Acordei querendo também abraçar Deus. Abri meus olhos procurando por forças e desejando ter consolo para dar, querendo respirar um pouco de vida e menos de fumaça. Fumaça de dor, fumaça invisível. Acordei querendo segurar as mãos de cada menina e rapaz naquele chão e os levar para casa. Acordei pensando nas suas fotos de infância e no que eles queriam ser quando crescer. Acordei imaginando como cada um alí deixou seu quarto e em como deram tchau para seus pais. Acordei com a garganta seca e o coração apertado, pensando em cada futuro que não virá, em cada plano que não vingou, em cada vida desperdiçada. Acordei me sentindo dependente, me sentindo um pouco só e muito frágil, me sentindo impotente… E mais humana. Me sentindo parte de cada jovem, de cada familiar, de cada bombeiro. De cada brasileiro que acordou assassinado, como eu. Assassinado pela imprudência, assassinado pelo acaso, assassinado pelo desrespeito e pela banalidade da vida. Assassinado pela descoberta de olhar-se no espelho e ver alí, o outro. O outro e sua tragédia, o outro e sua efemeridade, o outro e seu desconsolo, o outro e seu valor…
O outro e a dor de uma humanidade toda.

 

Texto: 

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